Uma das características da antropologia é sua inserção nos estudos das diferenças e problematizar práticas e processos relacionados ao tema dos direitos diferenciados, conflitos e produção de conhecimentos no fazer e no saber antropológico. A partir disso, poderíamos dizer, tal como propõe autores como Luiz Dumont, que a antropologia é uma ciência em devir.
Alagoas é uma terra de profundos contrastes sociais, culturais, políticos e econômicos protagonizados por diferentes povos e comunidades chamadas tradicionais e periféricas.
Tais contrastes são observáveis principalmente entre as sociedades indígenas, quilombolas e grupos das periferias, rurais e urbanas, observadas como minorias, inseridas em processos socioculturais e religiosos diversos de matrizes ocidentais e afro-indígenas que buscam ocupar espaços de direitos através de mobilização social em interlocução com o Estado e grupos socioeconômicos hegemônicos.
Alagoas segue sendo ainda, desde a emancipação de Pernambuco no início do século XIX, terra de grandes latifúndios da pecuária, de usineiros, de barão e de expressão de desigualdades. Desde a fundação da República é terra de coronéis, de marajás, terra de políticos “famosos”. Terra de conflitos entre os direitos do povo e o Estado.
Somam-se a isso também grupos e gêneros diversos como sãos denominados uma variedade de segmentos e identidades sociais: mulheres, homens e crianças, negros, gays, sem tetos, sem terra..... Comunidades religiosas de matrizes africanas e indígenas cujas crenças e práticas rituais são constantemente vulgarizadas e sujeitas a interpretações etnocêntricas.
A compreensão destas problemáticas significa somar esforços que oriente para a visibilidade dos processos sociais contemporâneos, mas que atendem à historicidade de povos e sujeitos diversificados. Ao mesmo tempo, as relações entre confrarias políticas e religiosas - isto é, (ou seja) instituições de diferentes instâncias do social são vistas, de certa forma, como exteriores às articulações das políticas de Estado frente aos setores populacionais configurados ideologicamente como minorias, a partir de um pensamento ainda colonial. Tais conflitos e suas negociações são notórios nas demandas e articulações de povos e comunidades locais que procuram compor formas de negociação e inserção social.
O saber da disciplina antropológica, sempre em processo, esferas atesta para evidenciar essas problemáticas num plano acadêmico, mas também político. Contudo, a construção dos saberes e do fazer antropológico enfrenta sérios dilemas teórico-metodológicos para alcançar o poder público, no intuito de provocar o estancamento da visão restrita do Estado, dos seus diferentes agentes- sejam eles sociais, políticos e principalmente jurídicos distantes dos movimentos sociais, que pretendem refrear a capacidade de ação de setores específicos da sociedade alagoana, do norte e do nordeste, e por extensão da sociedade brasileira.
As discussões e propostas que serão expostas aqui em Maceió entre hoje e a quarta-feira, dia 22, através das conferencias e inúmeros debates articulados por especialistas de várias frentes do saber antropológico, certamente contribuíram para expandir horizontes e formular novos desafios e deslocamentos para a prática etnográfica e epistemológica.
A realização desta edição da REA ABANNE pretende reforçar e estimular as pesquisas nas ciências sociais em Alagoas e a interlocução de saberes antropológicos em âmbito local, estadual, regional e internacional.
Processo que vem sendo estimulado através do curso de ciências sociais da UFAL, do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e do recém aprovado Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAS\UFAL) que iniciará sua primeira turma em outubro próximo. É em tais perspectivas que abriremos esta edição da RE ABNNE.
Sucesso a todos e muito obrigado pelo esforço de estarem partilhando conosco das perspectivas de um devir e de um saber-fazer, que diz respeito a todos nós.
Siloé Soares de Amorim / Coordeandor Geral do Evento
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